Ensino a Distância: solução para suprir a falta de professores? O que a qualidade dos cursos EaD desvela?

A partir da década de 2000 o EaD, Ensino a Distância, cresceu de forma muito expressiva nos cursos superiores, principalmente no setor privado. Os instrumentos de ensino a distância na forma de e-mails, vídeos, sons, ambientes virtuais, blogs, etc. são muito importantes, podendo e devendo ser utilizados de forma a contribuir como um instrumento a mais no favorecimento do processo de ensino/aprendizagem, sem abrir mão da possibilidade do uso de laboratório (nos cursos que são necessários), visitas a museus, estudos em grupo, etc.

No entanto, o que se verifica no Brasil é exatamente o oposto: O EaD, nos cursos superiores, está ocupando paulatinamente a posição dos cursos presenciais, em especial no que tange á formação de professores, e na maior parte dos casos, revelando baixa qualidade de ensino. A educação é a área com maior participação nas vagas oferecidas em EaD, o que inclui a formação de professores nas diversas modalidades, sendo que áreas com maior prestígio social e maior controle por parte de conselhos de classe e outros órgãos ou ministérios, além do MEC, tem uma participação nas vagas em cursos á distância bem menor ou mesmo nula. Cursos como engenharia e enfermagem, tem menos de 1% de vagas oferecidas em EaD, e cursos como medicina e odontologia, nenhuma vaga em cursos a distância, segundo dados divulgados pelo Professor Doutor Otaviano Helene, do Instituto de Física da USP, que atua em tratamento estatístico de dados experimentais e também mantém intensa militância na área de políticas educacionais, participando da elaboração do Plano Nacional de Educação (PNE-PSB) de 1998, além de ter sido presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) no ano de 2003.

Naturalmente seria facilmente plausível afirmar que medicina e odontologia são cursos incompatíveis com ensino á distância por exigirem uma experiência prática com pessoas, mas o argumento não seria válido também para cursos voltados a formação de professores, cuja vida profissional será em contato direto com pessoas (estudantes)? E para professores das áreas de biologia, física e química que exigem práticas experimentais e de laboratório? Com base nesses fatos é possível afirmar que as vagas oferecidas em EaD, no Brasil, não estão relacionadas ás necessidades nacionais de profissionais e é utilizada de forma distorcida nos cursos de formação profissional, principalmente no setor de ensino privado.

Por falar em setor privado, está nítido que ele se valeu do EaD para oferecer cursos mais baratos, com menos investimento, aproveitando-se da redução dos custos operacionais, resultando em baixa qualidade de ensino. Por volta do ano 2000, segundo dados de Helene, houve uma redução do ingresso em cursos presenciais ao mesmo tempo em que ocorria um aumento  nos cursos à distância. Isso confirma que o EaD no Brasil está substituindo os cursos presenciais, tendo como possível resultado um maior rebaixamento no nível de formação de professores do país, devido aos baixos investimentos do setor privado nesta modalidade á distância.

Os defensores que justificam o advento do ensino a distância é a necessidade de professores no país. Realmente faltam professores em salas de aula, sobretudo nas escolas públicas e os que atuam estão sobrecarregados. Mas será que realmente existe a dificuldade de formar professores em cursos presenciais ou há o desinteresse da juventude pela profissão? Segundo dados divulgados por Helene, nos últimos 25 anos, 70% das pessoas que concluíram os cursos de licenciatura não se dedicam ao ensino, ou seja, estão fora das salas de aula. Isso pode ser explicado pelas más condições de trabalho que o professor tem que se submeter como baixos salários, desrespeito profissional, entre outras causas. Assim, na maior parte dos casos, a carência de professores não é, portanto, conseqüência de uma real inexistência de pessoas formadas.

Com isso, podemos dizer que o EaD, seja um excelente exemplo de algo que acontece freqüentemente no Brasil: quando um problema é localizado (a falta de professores), ao invés de tentar resolvê-lo tenta-se tirar proveito dele, já que há um enorme interesse por parte das instituições de ensino privada no intuito de explorar as possibilidades mercantis do EaD. Se a preocupação não fosse estritamente capitalista, a utilização correta de ferramentas de ensino a distância em consonância com cursos presenciais dariam excelentes resultados no processo de ensino/aprendizagem e na formação de profissionais do país.

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